
Entre muitas ideias, agora sem acento, tive que escolher uma delas pra colocar aqui neste post. O fio que Érika puxou (Maria-chiquinha, esmalte e fotonovelas) levou Chico a pensar sobre Bonés, gibis e bolas de gude, que por sua vez levou Renata a falar de um momento seu, atual, na condição de avó (Com quem você quer parecer quando crescer?). A partir desses fios-histórias e tantos outros, que começo a tecer minha parte nessa colcha de retalhos. Resolvi falar da infância! Não de qualquer infância, mas de uma infância específica, a minha! As nossas memórias e histórias da época que éramos crianças, tal qual um espelho gigantesco, reflete muitas imagens de nós. Penso em alternativas... Nossas são infâncias são alternativas, pois são significadas ao passo de um caminho que se quer o desejamos ou sonhamos, mas que se torna emblemático e real no vivido.
Saudades da minha infância. Saudades das reminiscências de minha infância. Saudades de um tempo que não retornará. Lembro desse poema que escutei nas aulas de português da professora Eliana na 2ª série do ensino fundamental. Veio à tona em meus pensamentos imagens de minhas histórias de criança, que envolviam a casa, a rua, a escola, os amigos e “inimigos”, a pobreza, o mar, a terra, o castigo, a surra, a religião, os doces, a decepção, pai e mãe, primos, não-irmãos, avó e avô, tios e tias, sonhos e desejos, a busca e o encontro.
Trago, nesse contexto, a imagem da Emilia, personagem de Monteiro Lobato, que é uma boneca de pano que ganha vida e é a melhor amiga de Narizinho. Emília é a boneca que toma uma pílula falante e não pára mais de narrar, contar, resmungar, bagunçar, enfim, ganha vida. E em uma de suas ações decide guardar em uma canastra, uma espécie de baú, todas as suas memórias através de objetos que ao decorrer de sua história-vida deixam lembranças.
Aí, mais uma vez nossas histórias se entrecruzam. Lembrei da Maria-chiquinha que faziam em minha prima, das bolas de gude que jogava na rua, dos gibis que aprendi a ler, da relação neto-avó... Com os fios tecidos aqui fui recriando e ressignificando esse texto, na verdade alternativa, fui rememorando minha infância. E como nos fala Clarice Lispector “Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber do que nem ao menos sei? Assim: como se me lembrasse. Com um esforço de memória, como se eu nunca tivesse nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne viva”.